sexta-feira, 17 de agosto de 2007

20 Anos sem Carlos Drummond



SONETILHO DO FALSO FERNANDO PESSOA


Onde nasci, morri.

Onde morri, existo.

E das peles que visto

muitas há que não vi.


Sem mim como sem ti

posso durar. Desisto

de tudo quanto é misto

e que odiei ou senti.


Nem Fausto nem Mefisto,

à deusa que se ri

deste nosso oaristo,


eis-me a dizer: assisto

além, nenhum, aqui,

mas não sou eu, nem isto.

Carlos Drummond de Andrade In Claro Enigma

AS IDENTIDADES DO POETA

(trecho)
(...)
Fernando Pessoa caminha sozinho

pelas ruas da Baixa,

pela rotina do escritório

mercantil hostilou vai, dialogante, em companhia

de tantos si-mesmos

que mal pressentimos

na seca solitude

de seu sobretudo?


Afinal, quem é quem, na maranha

de fingimento que mal finge

e vai tecendo com fios de astúcia

personas mil na vaga estrutura

de um frágil Pessoa?(...)
Carlos Drummond de Andrade In Farewell

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