sábado, 13 de outubro de 2007

A poesia dos Outros

Ausência

Procuro domar tua distância,

embora ator

mente meus sonhos

e violente a ânsia contida

o saber-te solta

(e sem vida)

nos b

ares vazios da c

idade.


Sinto o teu vagar cigano

de ti e de mim

apagar o calor

(ainda presente)

nas pálpebras castanhas

do meu desejo,

f

eito de silêncio,

ócio,

cio

e pó.


José Gomes Neto in A Sagração da Matéria.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ave, Bethânia!



No ano em que completou 60 anos, a cantora Maria Bethânia convidou Andrucha Waddington para gravar o show que seria apresentado em Salvador e também para acompanhá-la, câmera na mão, nos festejos em família que se desenrolaria em Santo Amaro da Purificação, Bahia, sua cidade natal. O resultado é um documentário intimista, com Bethânia sendo vista nos bastidores do show, seguindo seus rituais religiosos para entrada em cena, em conversas com seus parentes, como o irmão Caetano Veloso e a mãe, dona Canô, cantando em família e explorando caminhos secretos de sua infância. É um filme para admiradores e fãs incontestes da cantora: Pedrinha de Aruanda
O roteiro é da própria Maria Bethânia, numa parceria com Andrucha e Sérgio Mekler. E você, entre aflita e aflitíssimo, perguntaria: E qual a novidade, Maria da Paz? Sem titubeio a resposta se apontaria: Bethânia continua buscando novos motivos, apostando em novos projetos, num tempo em que muitos perderam a ousadia e levantam bandeiras equivocadas. Os seus trabalhos, em estúdio, mais recentes como Maricotinha, 2003, Brasileirinho, 2004, Que Falta Você me Faz, 2005, Pirata, 2006, e Mar de Sofia, 2006, frutos de uma parceria mais que feliz, diria felicíssima, com o seu arranjador, o maestro Jaime Além, demonstram a seriedade, o zelo, o amor de Bethânia no trato com a sua trajetória musical. E tem fôlego para muito mais!
Bethânia bem de perto. De Júlio Bressane, é o outro documentário. É um filme feito em 1966, em preto-e-branco. Vai nos mostrar Bethânia recém chegada ao Rio, para substituir Nara Leão no famoso show Opinião – no Teatro Arena. Ainda, Bethânia passeando pela cidade, sentindo o cheiro de gasolina e de batata frita numa Copacabana amostrada, sedutora e desejosa de engolir, com a sua boca futurista, a baianinha nos seus 20 anos. E tem também Betha na intimidade, entre amigos como Jards Macalé, Susana de Moraes, Rosinha de Valença e Caetano Veloso.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Jorge Amado by Jaime Hipólito Dantas

Jorge Amado entrevistado pelo Jornalista e Crítico Literário JAIME HIPÓLITO DANTAS. Postado aqui, para garantir a perpetuidade de tão excelente escrita. De Jaime, pois sim.
Como forma de homenagear o escritor Jorge Amado, morto na última segunda-feira, em Salvador, o jornal O Mossoroense republica hoje uma entrevista que o escritor baiano concedeu ao jornalista e crítico literário Jaime Hipólito Dantas. A matéria foi publicada por este jornal na edição do dia 17 de dezembro de 1959. O escritor veio a Mossoró em virtude do lançamento do livro "O Homem que não Gostava de Cães, do escritor mossoroense Milton Pedrosa.
Acompanhavam o romancista os escritores Valdemar Cavalcanti, José Condé, Eneida e o editor Ênio Silveira. A comitiva de intelectuais esteve na cidade entre o período de 13 a 16 de dezembro daquele ano. Ao jornalista Jaime Hipólito Dantas, Jorge Amado falou sobre vários assuntos concernentes ao campo da literatura e sobre a visão do escritor sobre o movimento cultural do Rio Grande do Norte, especialmente de Mossoró e Natal. Veja a entrevista a seguir:
Por Jaime Hipólito Dantas
"Conheço melhor minhas qualidades do que os críticos. Sei que tenho qualidades e defeitos."
(JORGE AMADO)
Falar de Jorge Amado é falar de um momento literário. Não é fácil. Não é tarefa simples, para ser executada ao correr da máquina, na redação de um jornal. O grande Jorge transcende estes limites. Eleva-se e projeta-se à distância, constituindo, ele só, uma edificação muito ampla na paisagem das letras brasileiras. Diante dele automaticamente nos sentimos menores. A sua presença diante de nós significa também a presença de sua obra, que se agiganta a cada passo, se eleva e ganha em significação à medida em que um novo livro surge.
Paramos para pensar. Fazemos véspera para interrogá-lo, para ouvir-lhe uma palavra. O homem é sério, algo introvertido, não fixa o interlocutor, como se, acima de tudo, preferisse pensar ou entender-se, apenas, com os personagens que cria. Escuta o que lhe dizemos. Dá-nos sua atenção. Mas o jeito como o faz, como se entrega ao diálogo, não o torna uma criatura popular. O riso não lhe é franco nos lábios. Ou não é um riso simpático. O riso largo das pessoas afáveis, ou perdulárias na simpatia que distribuem, não é seu riso.
A pessoa de Jorge Amado tem assim algo de misterioso. Não sei se é o sofrimento do mundo, as desigualdades sociais, a disparidade de métodos de vida, não sei se são estes grandes problemas a causa do seu ar quase de um tristonho constante. Bem que os seus livros são mais alegres. Mais alegres os seus personagens, uma alegria às vezes paradoxal face ao ambiente de agruras a que não raro se ligam.
Meu contato com Jorge foi ligeiro. Conversamos pouco. Dos membros de sua comitiva, liguei-me mais a Condé, a Valdemar Cavalcanti e a Eneida. Cheguei a interrogar um destes sobre a casmurrice do grande Jorge. Eneida adiantou-se a responder: "É a criatura melhor do mundo". Devia ser. Mas, inquietava-me vê-lo como falava com um ou com outro. A um jovem estudante, que foi convidar para proferir uma conferência, respondeu apenas que não podia. Que não tinha tempo. E não entrou mais em explicações. O estudante voltou, tendo-o na conta de um orgulhoso. Outro qualquer, se não atendesse, poria a mão sobre o ombro do jovem, sorria, pedia muitas desculpas, ou prometeria para outra oportunidade, para o dia seguinte, ou para a noite.
Jorge Amado, entretanto, de poucas palavras, e além disto, sempre muito sincero, visceralmente honesto, parece preferir sempre ser ele mesmo, fiel ao seu temperamento arredio, muito sério. Nos raros momentos de conversação que mantivemos, marquei com ele uma entrevista. Foi gentil e se comprometeu. Em qualquer oportunidade estaria à minha disposição.

A ENTREVISTA
Voltamos, de auto, de uma visita às salinas de Mossoró. Como ele e como os outros eu acabara de ver pela primeira vez, de perto, uma pirâmide de sal. Jorge vinha calado, talvez sonolento, ou preso a profundas meditações. Cobrei-lhe a entrevista, ele logo se prontificou.
Primeiro falou dos seus começos na literatura. Escreve desde os 15 anos. Ainda adolescente publicou seu primeiro romance, como todos sabemos. Não tinha muita consciência de seu talento. Achava a ficção algo de muito amplo e, mesmo, desmedido.
Corria o ano de 1931, época de grande efervescência revolucionária, quer no campo da política, quer no da literatura. Saiu aí seu "País do Carnaval". Não contava ainda mais de 19 anos. Era quase uma criança. Uma criança que despontava com algo de muito sério para se introduzir nas letras patrícias.
Apesar das críticas em contrário, disse gostar ainda do "País do Carnaval". Questão talvez em grande parte de ordem sentimental. Era um livro de feitio revolucionário. Livro de acordo com os ditames da época. Experiência bem-sucedida? Claro que sim. Do contrário, de outro modo teria sido o destino dos livros seguintes.
QUESTÃO DE REALISMO
Há uma acusação constante em certos círculos, contra o realismo da maioria dos livros de Jorge. Há os que o tacham de licencioso. Existem mães de famílias que proíbem suas filhas adolescentes de o lerem. Era preciso ouvir a opinião de Jorge Amado sobre o assunto.
Não concordo com essas opiniões, disse. Procuro pintar a realidade. E quando escrevo não encaro como um problema a repercussão que possam ter os meus livros no seio de quem é adolescente. De quem tem 15 ou 16 anos.
O PAPEL DA CRÍTICA
Lembrei-lhe que nem sempre tem sido unânime o julgamento da crítica sobre seus livros. O caso do crítico Álvaro Lins era um exemplo. Outros apontam-lhe graves defeitos de linguagem e de estilo. Alguns mais o acusam de ser excessivamente poético em situações em que antes deveria ser mais prosador.
A pergunta deveria ser sobre se, de um modo geral, tem encarado os juízos críticos sobre seus livros como oportunidade.
– Conheço melhor minhas qualidades do que os críticos. Sei que tenho qualidades e defeitos independentes da opinião dos outros. A crítica exerce, de qualquer forma, um importante papel na literatura. Sou, entretanto, meio indiferente ao que diz de mim e de minha obra, conclui Jorge Amado.
LITERATURA RUSSA
O autor de "Capitães da Areia" é um profundo conhecedor de muitas literaturas. Conhece a literatura francesa e a espanhola. Conhece a inglesa. E, de modo especial, tem demonstrado possuir o maior interesse pela literatura russa.
Oportuno seria, portanto, interrogá-lo sobre a situação atual da literatura soviética. Não teria a revolução e o regime socialista feito arrefecer o ânimo dos escritores russos, fazendo-os bem menores e bem menos expressivos do que os grandes nomes do passado: um Dostoievsky, Tolstoi, um Tchecov?
– Não, respondeu Jorge. Tudo depende de conceito de julgamento. Os escritores da primeira fase da revolução são bons. Um Sholokov não me parece menor do que Dostoievsky.
E Pantenark?
– Pantenark é principalmente um grande poeta. Um dos maiores poetas do mundo atual.
Teria sido, portanto, justa a concessão do Prêmio Nobel?
– Pela significação de sua obra poética, sim. O "Doutor Jivago" é o romance de um grande poeta.
OS MAIORES ROMANCISTAS
Impossível, quando entrevistamos um escritor, não o inquirirmos sobre as obras ou autores de sua preferência. Quais os maiores nomes neste ou naquele setor literário.
Dissesse, portanto, Jorge Amado quais os maiores romancistas brasileiros de todos os tempos, em sua opinião. Sua resposta não se fez esperar, como se já houvesse por muitas vezes respondido à mesma indagação.
Citou José de Alencar, Aluizio Azevedo e Machado de Assis. Sobre o último, fez questão de enaltecer, principalmente, o contista. Sua maior predileção parece ser por Aluizio Azevedo, mestre do naturalismo, autor como ele, Jorge Amado, de romances de profunda integração na paisagem rural, nos mistérios da gente rústica das fazendas ou dos sítios.
Dos romancistas de sua geração, enumerou Lúcio Cardoso, José Lins do Rêgo, José Geraldo Vieira, Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz, Érico Veríssimo, Otávio de Faria e José Américo de Almeida, "que abriu o caminho a todos".
PLANOS
A conversação tomava vulto. Jorge Amado a tudo respondia com fluência e solicitude. Aqui e ali excessivamente breve, quase monossilábico. Mas respondendo sempre, e o repórter anotando.
A uma pergunta sobre se já considerava definitiva sua obra respondeu:
– Um escritor que acha ser sua obra definitiva não deve mais escrever.
Então não era o seu caso. Porque sabemos que Jorge continua escrevendo. E escrevendo muito, e fazendo de cada lançamento um sucesso de livraria.
Lembrou que é dos seus planos escrever um romance sobre os vagabundos da cidade de Salvador. Bem assim um outro que será um desenvolvimento do conto "A Morte e a Morte de Quincas Berro d’água". E continuará escrevendo enquanto houver força e assunto.
PRESTES
Mudando um tanto o tom da entrevista, vem a baila o nome de Luiz Carlos Prestes. Sobre Prestes, sabe-se que possui Jorge Amado uma admirável biografia do "Cavaleiro da Esperança". Escreveria ainda hoje, semelhante obra?
– Sim, respondeu Jorge. Ainda hoje poderia escrever o livro, sem reformar nenhum conceito. Prestes merecia de qualquer forma uma biografia.
INTERESSE PELO RIO GRANDE DO NORTE
A entrevista foi encerrada com uma palavra de Jorge Amado sobre o Rio Grande do Norte. Grande admirador de Luiz da Câmara Cascudo, mestre de folclore e da história, conhecia também Raimundo Nonato, Manuel Rodrigues de Melo e outros nomes.
E mais:
–Foi-me muito proveitosa esta visita de agora. Tive a oportunidade de conhecer de perto duas cidades onde, embora com muitos sacrifícios, se vem fazendo muito pela cultura: Natal e Mossoró. Creio que, de agora por diante, terei mais interesse pelo Rio Grande do Norte.
E concluindo:
– Sempre gostei muito de acompanhar o movimento dos jovens. E os jovens de Natal e de Mossoró me despertaram muito interesse.

In http://www2.uol.com.br/omossoroense/1808/univ5.htm

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A Poesia dos Outros

Escolha

Entre o gostar e amar
Prefiro o gostar:
Sossegado e desaflito.
Amar rede de ferro sobre o mar de porcelana
Não dá para mim
Pequena aranha
Que mal tece seus soluços.

Gostar proficiência, desafogo:
Rede etérea sobre mar cristalizado
Dá para mim
Aracnídea que executa
Mandala de leves contornos
Enaltecendo vazios.

Entre o gostar e o amar
Fico com o que não entranha:
Nem calor, nem frio.

Anchella Monte In Temas roubados.
Em vôo solo. Edições Sebo Vermelho.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

20 Anos sem Carlos Drummond



SONETILHO DO FALSO FERNANDO PESSOA


Onde nasci, morri.

Onde morri, existo.

E das peles que visto

muitas há que não vi.


Sem mim como sem ti

posso durar. Desisto

de tudo quanto é misto

e que odiei ou senti.


Nem Fausto nem Mefisto,

à deusa que se ri

deste nosso oaristo,


eis-me a dizer: assisto

além, nenhum, aqui,

mas não sou eu, nem isto.

Carlos Drummond de Andrade In Claro Enigma

AS IDENTIDADES DO POETA

(trecho)
(...)
Fernando Pessoa caminha sozinho

pelas ruas da Baixa,

pela rotina do escritório

mercantil hostilou vai, dialogante, em companhia

de tantos si-mesmos

que mal pressentimos

na seca solitude

de seu sobretudo?


Afinal, quem é quem, na maranha

de fingimento que mal finge

e vai tecendo com fios de astúcia

personas mil na vaga estrutura

de um frágil Pessoa?(...)
Carlos Drummond de Andrade In Farewell

Doce desejo II




Quando setembro vier,
vou lembrar de Lindo-Amor.
Dois-Dois:
Amor-Amar.
Cravo e Flor.


by Aluísio Barros (in Dos Amores que Beiram os Meus Caminhos)


Agosto.


Um mês inteirinho dedicado
a Luís da Câmara Cascudo.
Depois, balas de açúcar candy
para Cosme e Damião,
que setembro vem aí.

- Eu acho, visse!

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Mein Kampf, publicado em 1924, na verdade começara a ser escrito aos 20 dias do mês abril do ano de 1889, em Braunau am Inn, na Áustria. Todos sentiram que algo estranho fora vomitado pela Montanha naquela noite. Anabela testemunhou. Mas nenhum Centro Clínico fora capaz de fazer com que o olhar dela mudasse pelo menos de direção por um milimetro de diferença. Não seria apenas o destino dos judeus, eslavos, polonoses, ciganos, negros, homossexuais, deficientes físicos e mentais que começaria a correr perigo. Todos estavam correndo sério risco. E muita coisa ainda iria acontecer. Era só esperar. E todos sabíamos que algo estranho estava por vir. Mas não imaginávamos.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

A montanha vai parir um rato. Ele disse. E saiu. Apressado. Na asa do vento da tarde quase noite. Ela ficou assustada. Assustadíssima. Disse-me. E, numa rapidez estonteante de palavras, buscou um meio de sair daquela zona. Agora, pelo aviso, perigossíssima. Anabela estava por vir. Seria coisa de tempo rápido. E, pelo costume, seria antes da hora do rush. Hoje não teríamos happy hour. Os drinks ficariam esperando inultilmente. Dry martinni. Nada de jazz. O rapaz do sax seria o primeiro a entender que aquela noite não se faria como sempre. Era a noite da fúria. Todos iriam se arrepender por não ter tentado abortar o processo.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Saramago alerta sobre "tentação autoritária" na esquerda latino-americana


BOGOTÁ, 9 Jul 2007 (AFP)
O prêmio Nobel de Literatura (1998) José Saramago alertou nesta segunda-feira a imprensa colombiana para uma "tentação autoritária" observada em setores de esquerda que chegaram ao poder na América Latina.
Saramago concedeu uma entrevista coletiva em Bogotá, cidade designada como a capital mundial do livro pela Unesco e onde o escritor português participa de uma conferência sobre o uso do livro como instrumento da paz.
José Saramago disse que a esquerda "sofre uma espécie de tentação maligna que é a fragmentação" ao responder a uma pergunta do jornal El Tiempo sobre o ressurgimento de governos desta tendência na América Latina; deu a entender que mantinha suas reservas.
"Há uma tendência autoritária em muitos países. Nada restou dos ideais", afirmou o prêmio Nobel, que também adotou um tom crítico com relação aos grupos armados que atuam na Colômbia, incluindo as guerrilhas de esquerda.
"Há desaparecidos, seqüestrados, paramilitares e guerrilheiros que, no começo, suponho que tivessem vontade de mudar algo, mas se tornaram seqüestradores e narcotraficantes, e o pior é que eles já não saberiam viver de outra forma", lamentou.
O escritor octogenário também advertiu para o ressurgimento do fascismo no velho continente. "Na Europa estamos assistindo ao ressurgir da direita, à presença da extrema direita com insígnias fascistas", alertou ele.
Deixou claro, no entanto, que continua sendo comunista, "embora as coisas não sejam tão puras como imaginei".
"Não vejo nada mais estúpido do que a esquerda", acrescentou o escritor, "uns enfrentam os outros, por grupos, por partidos, por opções".

sexta-feira, 6 de julho de 2007

A Poesia dos Outros













Lembrança


Resta de ti a saudade,
gasosamente infiltrada
em todos os espaços da casa;

resta de ti o eco doloroso
de tua voz
batendo insistentemente
nas paredes
descolando do cérebro
lembranças entranhadas.

Resta na sala,
no jardim,

em tudo acesamente,
tua presença escorregadia

vagando indiferente
à tempestades dos meus olhos.

Aécio Cândido In Poemas Hemorrágicos.

A Poesia dos Outros














Palavras

Rápidas sussurrantes atrevidas
Sintaxe ávida sílabas sibilos
Sotaque ocidental verbos pudicos
Fostes solar germinação palustre

Sois sons articulando algum sentido.

Franco Maria Jasiello In Anatomia da Ausência.

Uma saudade prenúncio da Lua Azul

sábado, 23 de junho de 2007

Uma Mossoroesnse aos Olhos de Drummond by Marcos Ferreira

Com uma incontável legião de amigos e admiradores espalhados por todo o Brasil e parte do mundo, o poeta Carlos Drummond de Andrade ligou sua ponte sentimental-afetiva também com a cidade de Mossoró. Essa aproximação ocorreu por meio da mossoroense Luzia Helena de Carvalho, nascida aos 13 de agosto de 1926 e morta no último dia 23 de novembro, em virtude de um derrame cerebral.
Por cerca de dez anos, Dona Luzia fez parte do cotidiano familiar e afetivo de Carlos Drummond. Parentes dela informam que por volta de 1955 a 1970 a mossoroense morou na casa do poeta, no Rio de Janeiro, onde começou trabalhando como doméstica e depois tornou-se cozinheira da família. Por seu espírito alegre e seu carisma irradiante, Dona Luzia conquistou a confiança e o carinho de todos da casa.
Uma prova dessa estima e atenção para com a mossoroense, o poeta mineiro expressou através de sua escrita. A homenagem veio na crônica intitulada ‘Luzia’, que integra o livro A Bolsa e a Vida, edição de 1971, da editora Sabiá, em convênio com o Instituto Nacional do Livro e o MEC. O leitor pode conferir integralmente nesta página a transcrição do texto que o poeta escreveu para Luzia Helena.
Até os últimos dias de vida, Dona Luzia guardou com muito carinho um volume de A Bolsa e a Vida com dedicatória do próprio pulso do poeta, redigida em 1° de novembro de 1971. Essa história, que bem pouca gente conhece, foi relatada à reportagem de O Mossoroense pela enfermeira Fátima Oliveira, sobrinha de criação de Luzia Helena, visto que o pai de Fátima foi criado pela mãe de Dona Luzia.
Segundo Fátima, a vida de sua tia foi sempre muito ausente de Mossoró. Na década de 50, ainda muito jovem, Luzia foi embora para o Rio de Janeiro em companhia de familiares. “Foi por essa época que ela teve acesso à casa de Drummond. Ela começou como copeira e depois assumiu a cozinha da casa”, diz Fátima, casada com o comerciante Wolgran Athayde, sobrinho do escritor Austregésilo de Athayde.
A CORRESPONDÊNCIA
Mesmo após haver deixado a residência do poeta por causa de um noivado que não deu certo, Luzia Helena não perdeu o contato afetivo com a família Drummond. Fátima Oliveira informa que durante muitos anos ainda chegavam a Mossoró correspondências, cartões natalinos ou de aniversário endereçados à sua tia. A mossoroense era muito estimada também pela esposa e a filha do poeta.
“Embora não fosse uma pessoa de muita instrução escolar e menos ainda tivesse outras relações com o meio literário de seu tempo, minha tia falava com muito orgulho de sua amizade com a família Drummond. Tudo que dissesse respeito ao poeta, ela guardava com muito carinho. Esse livro era o seu maior tesouro, assim com as cartas, cartões de festas e outras coisas que ela recebia pelo Correio”, comenta Fátima.
FAMÍLIA
Apesar do insucesso com o primeiro noivado e de nunca ter tido filhos, Luzia Helena encontrou a felicidade ao lado de Rufino Roque de Carvalho, um natalense que trabalhou alguns anos embarcado no porto de Santos e que hoje reside em Mossoró. Luzia era filha de Manoel José de Oliveira e de Maria Herculana da Conceição, ainda viva com 95 anos de idade, moradora da rua Melo Franco, 868, em Mossoró.
A BOLSA E A VIDA
A respeito da obra em que homenageia a mossoroense, à época em sua quinta edição, Drummond escreveu o seguinte: “O título A Bolsa & a Vida não deve ser interpretado em sentido truculento. A bolsa é uma é uma bolsa modesta de comerciária, achada num coletivo. E a vida é isso e tudo mais que o livro procura refletir em estado de crônica, isto é, sem atormentar o leitor — apenas, aqui e ali, recordando-lhe a condição humana.”
Vamos ao texto de Carlos Drummond:

LUZIA
— NÃO está me conhecendo? Sou a Luzia. Em casa todos bem?
— Oh, Luzia, desculpe. Ando com a vista meio fraca. Mas você está um bocado alinhada, criatura!
— O senhor acha? Bondade sua.
— Acho, não. É fato. Você se casou, Luzia?
— Que nada, doutor. Casamento é pra quem pode, quem sou eu?
— Você estava noiva quando saiu lá de casa.
— Estava sim, mas o senhor quer que eu seja franca? Não gostava dêle, queria só casar, pra dar gosto à minha tia, que me criou. Aí eu pensei assim: Não tenho amor a este camarada, depois do casamento faço a infelicidade dele, não é direito. Até que meu noivo era legal, tinha uma alfaiataria em Niterói, carro na praça. Não fiz bem?
— Você foi muito correta, Luzia.
— Pois é. Mas depois me desiludi dos homens, sabe? Me desiludi completamente.
— Tão cedo!
— Tenho 18 anos por fora, por dentro já perdi a conta. Veja só; fui ser cem por cento com o meu noivo, e quando arranjei outro namorado, não dei sorte.
— Também não gostou dele?
— Gostei demais, aí é que está. Foi o meu erro. Aí ele me disse que era casado, não podia remediar nada.
— Sendo assim...
— Mentira dele, doutor. Minha prima gostou de um cara que não usava aliança, quando foi ver ele tinha obrigação em casa, com cinco bocas. O meu, não, se fez de pai de família pra não casar.
— É pena, Luzia. Mas não fique triste, há tanto marido ordinário nesse mundo, quem sabe se você não escapou de um!
— Ah, mas agora sou eu que não penso em casamento. Tenho mais que fazer.
— E que é que você faz?
— Pois o senhor não sabe? Quando saí de sua casa, resolvi acabar com o serviço de copeira. Empregada doméstica não resolve. Fiz o curso na escola de manicura, tirei certificado e fui trabalhar num salão de mulheres. Não dava pra pagar o quarto. O porteiro de uma boate olhou pra mim e disse: “Broto, não faz unha de mulher, que é fominha, faz unha de homem.” Mudei de salão, desta vez dei sorte.
— Ótimo, Luzia.
— Graças a Deus nunca mais andei sem dinheiro, o senhor acredita? O patrão só me paga no fim do mês, mas os fregueses dão boas gorjetas, de maneiras que tenho sempre algum na bolsa. Agora estou menos folgada, porque tive de comprar móveis, o apartamento estava tão vazio!
— Que apartamento, Luzia?
— O que eu aluguei. Um freguês se ofereceu pra prestar fiança, dizem que isso é difícil.
— Não é difícil, é um sonho. E você se queixa dos homens?
— Quer dizer: de todos, não. Comprei os móveis no crediário e agora vou comprar uma radiovitrola. Quando acabar o pagamento compro a geladeira.
— Parabéns, minha filha, você venceu.
— Ah, doutor, não diga isso. Estou só começando. Quando quiser, apareça lá em casa que me dará muito prazer. Casa de pobre, mas tem uísque pros amigos. Recomendações à madame, um beijo pros netinhos!
E seguiu — o alegre estampado, a saia curta, as pernas longas e bem esculpidas, o bico fino dos sapatos, o sorriso de dentes alvos no belo moreno carregado do rosto.

In FERREIRA, Marcos (Editor de Cultura). O Mossoroense - Mossoró-RN, domingo, 8 de dezembro de 2002

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Lavadeiras de Moçoró


AS LAVADEIRAS DE MOÇORÓ, cada uma tem sua pedra no rio; cada pedra é herança de família, passando de mãe a filha, de filha a neta, como vão passando as águas no tempo. As pedras têm um polimento que revela a ação de muitos dias e muitas lavadeiras. Servem de espelho a suas donas. E suas formas diferentes também correspondem de certo modo à figura física de quem as usa. Umas são arredondadas e cheias, aquelas magras e angulosas, e todas têm ar próprio, que não se presta a confusão.
A lavadeira e a pedra formam um ente especial, que se divide e se unifica ao sabor do trabalho. Se a mulher entoa uma canção, percebe-se que a pedra a acompanha em surdina. Outras vezes, parece que o canto murmurante vem da pedra, e a lavadeira lhe dá volume e desenvolvimento.
Na pobreza natural das lavadeiras, as pedras são uma fortuna, jóias que elas não precisam levar para casa. Ninguém as rouba, nem elas, de tão fiéis, se deixariam seduzir por estranhos.

Lavadeiras de Moçoró II

ENTRE AS LAVADEIRAS DE MOÇORÓ, Luzia se destaca. Sua pele é de ébano polido, reluzente, e dizem que roupa lavada por suas mãos, não há brancura que a suplante em todo o Norte.
A pedra que Luzia recebeu de sua mãe, e esta de sua avó, faria inveja às outras lavadeiras, de tão grande e listrada de veios de cor, se Luzia não fosse tão boa colega. Freqüentemente cede a sua pedra à vizinha que namora com os olhos uma coisa tão importante e boa de nela se bater roupa. Enquanto isso, Luzia afasta-se, fica pensando no marinheiro de Santos.
Por que marinheiro, por que de Santos? Porque sua sina é casar-se com ele, segundo anuncia o sinal escrito na pedra. Luzia nunca saiu de Moçoró, e de marinheiros em geral tem escassa notícia. Mas Rufino a espera em Santos, é a pedra que o diz, lida e interpretada pela comadre de Luzia, que sabe a lição das coisas e nunca errou nos vaticínios.
Lá vai Luzia a caminho de Santos, as colegas choram ao apitar o vapor, Luzia tem lágrimas nos olhos empapuçados e vermelhos. Na pedra ninguém tocará, é a pedra de Luzia, encantada. Salvo se a comadre descobrir nela novo destino.

In ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos Plausíveis. José Olympio, Rio: 1981

Ps 1.De plausível =...no sentido de tudo neste mundo, e talvez em outros, é crível, provável, verossímil. Todos os dias a imaginação humana confere seus limites, e conclui que a realidade ainda é maior do que ela. (Carlos Drummond de Andrade, na abertura do livro).

Ps 2. No Mundo Nosso – Dona Luzia existiu, sim. E trabalhou como copeira e cozinheira na casa do poeta. Além de Contos Plausíveis, ela aparece também como personagem em A Bolsa e& A Vida. Entre os familiares mossoroenses de Dona Luzia e que podem confirmar a convivência amistosa entre ela e o poeta, cito as ex-rainhas do Carnaval de Mossoró, Luisa e Fátima Oliveira. Os contos, hoje reunidos em livros, mas anteriormente matéria dominical do Caderno B, do Jornal do Brasil, no final dos anos 70, já haviam sido tratados antes pelo jornais de Mossoró (publicados no Caderno 2, da Gazeta do Oeste, nos idos de 80, e matéria jornalística, com depoimentos de familiares, inclusive, no O Mossoroense - veja matéria neste blog)

domingo, 17 de junho de 2007

Todas as faces de Frida


O Museu de Belas Artes da Cidade do México inaugura a maior exposição dedicada a pintora nos seus cem anos de nascimento.
Cem anos? Em 1981, uma equipe de televisão alemã-oriental chegou ao México para fazer um documentário de meia hora sobre a artista mexicana, mulher do pintor Diego Rivera. Em busca de novidades para temperar sua reportagem, Gislind Nabakowsky e Peter Nicolai entrevistaram Isabel Campos, amiga e colega de escola de Frida. Nascida em 1906, Isabel comentou que Frida era um ano mais moça que ela, contradizendo a data de nascimento até então considerada correta. Os jornalistas, surpresos, procuraram sua certidão e, de fato, Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón tinha nascido em 7 de julho de 1907. Se tivéssemos escutado Frida Kahlo, hoje ninguém falaria de seu centenário. Não haveria grandes exposições no México e nos EUA, nem estariam sendo revelados com tanta pompa seus arquivos particulares da Casa Azul. Seria preciso esperar mais três anos. Mas Kahlo nunca se cansou de dizer que nasceu com a revolução mexicana, em 1910. "Frida enfeitava a verdade, a inventava, a extraía, mas nunca a evitou", lembra Raquel Tibol em seu livro "Frida Kahlo en su Luz Más Íntima" (Lumen). A artista sempre quis ser a menina nascida de um México novo, marxista e revolucionário.O peso que a política teve na vida de Frida - apesar de não se manifestar diretamente em seus quadros, exceto alguns precoces como "O Caminhão" ou "Auto-Retrato na Fronteira de EUA e México"- é precisamente um dos eixos da enorme exposição que preparou para seu centenário o Museu de Belas Artes da Cidade do México, de hoje até 19 de agosto. Maior inclusive que a antológica feita pela Tate Modern de Londres em 2005. "Frida Kahlo, 1907-2007 - Homenagem Nacional" é a primeira leitura com aspirações analítica e global da poliédrica - e mediática - figura da mulher mais cotada no febril mundo da arte. "É mais uma mostra analítica que uma revisão cronológica de seus quadros; tentamos ver Frida em seu contexto histórico e social", explica um dos curadores e neto de Diego Rivera, Juan Coronel.Em oito salas do Palácio de Belas Artes (onde o visitante também pode ver os impressionantes murais de Rivera ou de David Alfaro Siqueiros), e através de 65 óleos, 45 desenhos, 11 aquarelas e cinco gravuras, mais cerca de 50 cartas e cem fotografias, mostra uma Frida que não só pintava sobre si mesma -e que Breton quis incluir entre os surrealistas-, como também, o que se lê em uma de suas cartas, organizou uma arrecadação de fundos para o lado republicano na Guerra Civil espanhola. Não só foi pintora de óleos, mas escritora, amante da caligrafia japonesa e amante -apaixonada- de Diego Rivera. "Frida tinha muitas dimensões, e aqui se mostra um retrato mais completo dela e de seu tempo", afirma Cristina Kahlo, sobrinha-neta da artista e curadora da seção fotográfica da mostra.Exatamente, a fotografia surge como uma chave da exposição. Não só na sala dedicada a mostrar Frida retratada por grandes fotógrafos, como Manuel Alvárez Bravo ou Nicholas Murray (que foi um de seus amantes); ou em outra que mostra Frida em ambiente informal e familiar, vestida de homem na adolescência; mas que também ressalta a influência que a fotografia teve em sua pintura. Seu pai, Guillermo Kahlo, fotógrafo para quem ela posou desde menina, marcou essa maneira de se auto-retratar e retratar aos outros que a transformou em ícone. E muito rentável, embora a polêmica acompanhe cada novo produto que sai com a marca registrada Frida Kahlo.Quando a herdeira da imagem e assinatura da artista mexicana registrou o nome de sua tia, não sabia a confusão que ia armar. Isolda Pinedo Kahlo lançou sob licença óculos, bonecas e um sutiã, e em 2005 deu o passo que criou uma sociedade que promete fazer ouro com a imagem da artista: a Frida Kahlo Corporation. Algo que Carlos Philips Olmedo, diretor dos museus Frida Kahlo, Dolores Olmedo e Anahuacalli, qualifica de "agressão". "Vão lançar tênis, coisa que Frida nunca usou!"Pouco se fala na exposição do que todos falaram até cansar: dessa Frida sofrida, maltratada pela poliomielite, pelo acidente que a destroçou e pelas múltiplas operações. Frida fala aqui sobre humor e paixão pela vida. Além de quadros chaves, como "As Duas Fridas", são exibidas pela primeira vez no México obras impactantes como "O Suicídio de Dorothy Hale", "O Retrato de Diego e Frida" ou "Menina com Máscara".Mas a coisa não pára aí. O México preparou artilharia pesada em um ano em que também se comemoram os 50 anos da morte de Diego Rivera. Espera-se que em setembro sejam publicados os 56 mil documentos tirados de caixas e armários nos últimos três anos. Entre eles, mais de 2.500 fotos, cerca de 53 desenhos totalmente inéditos de Kahlo, esboços de Rivera e muitos outros documentos. O tesouro que qualquer biógrafo desejaria. "Isso nos dará muita informação sobre o casal e ajudará a complementar o que já sabemos sobre Frida", comenta Carlos Philips Olmedo, diretor dos museus dos artistas. Em julho virá o primeiro bocado dessa descoberta na exposição que prepara a Casa Azul Museu Frida Kahlo.E há mais. O Fórum De Monterrey prepara para agosto outra mostra de Frida no Museu Marco, com a coleção completa do Museu Dolores Olmedo. Obras de teatro, reedições de livros, pequenas exposições em outros pontos do México colocarão Frida na boca de todos até que chegue a vez de Rivera. O outono será a época das grandes exposições do pintor, que também ocupará o Palácio de Belas Artes com uma grande antologia de seus murais.A expectativa só faz aumentar o mito que esse casal ambíguo e fascinante quis criar em vida. E que assim se apodera de 2007. "Eles sabiam que seriam esse casal quase mitológico", diz Juan Coronel, que não hesita em classificá-los como os primeiros artistas pop da história.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Visite o site do El País

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Clube dos Corações Solitários



O disco dos Beatles, lançado em 1967, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, está completando 40 anos. Sinto uma vontade enorme de usar patchouli e sair pelas ruas da cidade num desses carros tipo trio elétrico, tocando as músicas e rogando aos céus para que esta geração que aí está, novíssima, se deixasse tocar por cada acorde, até despertar deste sono de Cinderela. Sou doido, não! Mas já fui caminhante e conheço a estrada.
***

Sgt. Pepper’s foi incluído no Hall da Fama do Rock and Roll, em 1988. É considerado, desde então, o mais definitivo de todos os álbuns do Hall da Fama. E olha que ele foi lançado no mesmo ano de "Are You Experienced", the Jimi Hendrix, "The Velvet Underground and Nico" e "Surrealistic Pillow", do Jefferson Airplane. A capa, de Peter Blake, mostra imagens dos Beatles e dos vários notáveis que os rapazes de Liverpool gostariam que estivessem presentes em um concerto imaginário. O que é que Branca de Neve está fazendo na capa? É uma história longa!

terça-feira, 5 de junho de 2007

Canteiros de Rosa


Merece registro a passagem do Grupo de Teatro Vilavox, de Salvador, Bahia, pelo Teatro Municipal de Mossoró, nos dias 24, 25 e 26 de maio. O Vilavox é um dos grupos residentes do Teatro Vila Velha, reduto artístico-cultural de resistência, da capital baiana. Canteiros de Rosa – uma homenagem à Guimarães, o texto de Gordo Neto (foto), livremente inspirado na obra do escritor mineiro, foi vencedor do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz e está viajando por algumas capitais e principais cidades nordestinas (Aracaju, Alagoinhas, Mossoró, Natal, Maceió e Recife) no que eles denominaram de Caravana Funarte/Petrobras de Circulação Nacional. Antenado fique, passando por perto, vale conferir. Os espetáculos em Aracaju, Alagoinhas, Mossoró e Natal já aconteceram, mas ainda é possível em Maceió (15, 16 e 17 de junho) e Recife (27, 28 e 29 de julho).

Delicatto

Seria pecado omitir a presença, mais uma, do Delicatto (Hilkelia Carlem – soprano, Teresa Quintiliano – piano, Glaucia Santos – violino, Ailson Saraiva – violoncelo) e seus convidados: José Fernandez - barítono, Bibiana Esteves – dança flamenca, Eduardo Taufic - teclado, Edmilson Cardoso - bateria, Michelle Ferret - percussão e Arcésio Santos - violão, todos no Teatro Municipal, no show Nella Fantasia – a música que revela a beleza invisível, na noite de 22 de maio. Bravo, bravíssimo!

domingo, 29 de abril de 2007

Délicatesse

1. Minhas lágrimas I.
Em um dia de fevereiro, 10 anos antes de hoje. "Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. Crítica não é raiva. E a crítica, às vezes, é estúpida." Paulo Francis.
2. Minhas Lágrimas II.
Há tempos em que tudo se ofusca dentro de mim. Até mesmo a chegada de borboletas vindas de Paris. Cê sabe, ao Anjo, raios e trovões também metem medo!
3. Kingfish.
Cinema, meu Bem, para clarear. Há dois filmes acima da média esperando que a tarde se faça: A Grande Ilusão, baseado no romance do escritor norte-americano Robert Penn Warren (All The King’s Men), que por sua vez se inspirou na trajetória política de Huey Long, governador e senador do Estado da Louisiana, E.U.A, dono de um discurso ao gosto das massas, popularíssimo, demagogo de marré decê. Dirigido por Steven Zaillian (roteirista premiado com um Oscar por A Lista de Schindler) e estrelado por Sean Pean, Jude Law, Kate Winslet e Anthony Hopkins, o filme aborda um problema corrente nas democracias modernas: a corrupção que se instala nas campanhas eleitorais e nos governos.
4. Creme de Chantilly.
A primeira versão de A Grande Ilusão é de 1949 e ganhou três estatuetas: o Oscar de melhor filme, melhor ator (Broderick Crawford) e melhor atriz coadjuvante (Mercedes McCambridge). E você pode até nem saber da grandeza de Robert Penn Warren, mas ele é um dos grandes nomes da literatura norte-americana: sulista, idolatrado também como poeta, é o ganhador do prêmio Pulitzer de 1947, pelo romance All The King’s Men.
5. As flores chegaram! Que flores?
Ah, e você quer por que quer dizer algo sobre o Prêmio Pulitzer, mas não sabe? Tem problema, não, meu Anjo, alteie-se: o Pulitzer é um prêmio americano outorgado a pessoas que realizam trabalhos de excelência na área de jornalismo, literatura e música. Foi criado em 1917 por desejo de Joseph Pulitzer, é administrado pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e é anunciado sempre em abril. São 21 categorias e o ganhador leva 10 mil dólares e um certificado. Os próximos indicados serão conhecidos no dia 16. Contado.
6. Suely in the sky with diamonds.
Arretado! O que é arretado, Macho? O outro filme: O Céu de Suely. De Karim Aïnouz. Cineasta da gema do Ceará. A vida de Hermila sendo reinventada, enquanto os nossos desejos de mudanças também vão aflorando. Quereres de caminhos novos pela certeza que tudo é passagem. Travessia. O filme é de uma delicadeza... Ai, Iguatu... saudades tantas pros dias que precisam ainda ser vividos depois e apesar de ti! Viva o Cinema Brasileiro! Vivaaa! Vou rifar o meu Amor. Se vou!
7. Trilha sonora:
Tudo que eu tenho. Dos anos 70. Uma versão dentre tantas de Rossini Pinto para uma canção de David Gates, interpretada por Diana. Tudo. De cortar! O detalhe é que na época, a cantora Diana, ex-Odair José, era dirigida por Raul Seixas. Também: Não Vou mais Chorar. É sim, Aviões do Forró. E ainda Lairton dos Teclados na trilha do filme de Karim Aïonouz. Aí a tarde se alonga em nuvens esparsas, uns pedacinhos de céu azul azulzinho anil e um horizonte horrivelmente descontrolado de tão grande. No NE, o diferente é fora de lugar.
8. Betha, Bethânia!
Ela tem produzido como poucos, desde que trocou as gravadoras multinacionais pela Biscoito Fino, essencialmente voltada para a música popular brasileira. Dois novos discos abastecem os seus fidelíssimos: Pirata, viagem pelo universo folclórico e afetivo das águas dos rios do interior do Brasil, e Mar de Sophia, onde a poesia lusitana de Sophia de Mello Breyner vai pontuando as narrativas que a voz de Bethânia desfia. Maresia? Tem. Muita.
9. Kalliane Sibelli.
Coubera-me, antes de todo o tempo,
este olhar com que te olho, despido,
sob a claridade que escorre da minha mão.
in Exercício de Silêncio. Uma dama que se mostra sutil. Delicadíssima. Merecido ensaio de Leontino Filho. Edições Queima Bucha. Enfim, a Poesia!
10. Jundiaí.
Existirmos... até quando?

sábado, 28 de abril de 2007

Extremos da Paixão by Caio Fernando Abreu

"Não, meu bem,
não adianta bancar o distante
lá vem o amor nos dilacerar de novo..."

Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada. O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER. Pensando nisso, pensei um pouco depois em Boy George: meu-amor-me-abandonou-e-sem-ele-eu-nao-vivo-então-quero-morrer-drogado. Lembrei de John Hincley Jr., apaixonado por Jodie Foster, e que escreveu a ela, em 1981: "Se você não me amar, eu matarei o presidente". E deu um tiro em Ronald Regan. A frase de Hincley é a mais significativa frase de amor do século XX. A atitude de Boy George - se não houver algo de publicitário nisso - é a mais linda atitude de amor do século XX. Penso em Werther, de Goethe. E acho lindo.No século XX não se ama. Ninguém quer ninguém. Amar é out, é babaca, é careta. Embora persistam essas estranhas fronteiras entre paixão e loucura, entre paixão e suicídio. Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira:compreendo sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe,berrando de pavor para o mundo insano,e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó.O que ou quem cruzo entre esses dois portos gelados da solidão é mera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o terno do perecível, loucos. Depois, pensei também em Adèle Hugo, filha de Victor Hugo. A Adèle H. de François Truffaut, vivida por Isabelle Adjani. Adèle apaixonou-se por um homem. Ele não a queria. Ela o seguiu aos Estados Unidos, ao Caribe, escrevendo cartas jamais respondidas, rastejando por amor. Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolosem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar.Andei pensando em Adèle H., em Boy George e em John Hincley Jr. Andei pensando nesses extremos da paixão, quando te amo tanto e tão além do meu ego que - se você não me ama: eu enlouqueço, eu me suicido com heroína ou eu mato o presidente. Me veio um fundo desprezo pela minha/nossa dor mediana, pela minha/nossa rejeição amorosa desempenhando papéis tipo sou-forte-seguro-essa-sou-mais-eu. Que imensa miséria o grande amor - depois do não, depois do fim - reduzir-se a duas ou três frases frias ou sarcásticas. Num bar qualquer, numa esquina da vida. Ai que dor: que dor sentida e portuguesa de Fernando Pessoa - muito mais sábio -, que nunca caiu nessas ciladas. Pois como já dizia Drummond, "o amor car(o,a,) colega esse não consola nunca de núncaras". E apesar de tudo eu penso sim, eu digo sim, eu quero Sins.
Caio F. in Pequenas Epifanias

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Drops de hortelã-pimenta


1. Macabea: "eu gosto tanto de ouvir os pingos do minuto do tempo assim: tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac" (in A hora da estrela, de Clarice Lispector).
2. Os pingos do minuto do tempo, / quando noturnos, / são soturnos se estás distante de mim, / mas desaparecem no teu sorriso / quando adentras o meu corpo / e de mim se apossas. // Hoje, / estou me sentindo tomado por acordes dissonantes / dos pingos / do minuto do tempo.
3. Boa companhia! Impagável a edição com Clarice Lispector, do Instituto Moreira Salles/Cadernos de Literatura Brasileira. Todos os que sabem falar sobre Clarice estão lá: Silviano Santiago, Benedito Nunes, Nádia Battella Goltlib, Olga de Sá...
4. Alerta máximo. Carlos Drummond de Andrade nos avisa: o povo toma pileques de ilusão com futebol e carnaval. São estas as suas duas fontes de sonho. Pois, pois, digo eu.
5. Enquanto isso, a tevê na sala de jantar, mostrava crianças e adultos, nos Andes, num vilarejo de população diminuta, brincando carnaval. Fantasiados de urso. Polar. Eles, assim como os gregos e romanos, comemoravam suas colheitas.
6. Yeats. Como poeta, acho melhor não dizer nada num tempo assim, porque não temos a virtude de corrigir os atos governamentais (in Os Cisnes Sevalgens de Coole).
7. A cada dia, viver me esmaga com mais força. Caio Fernando Abreu. Estão sendo reeditados pela editora Agir: O Essencial da Década de 70 e O Essencial da Década de 80. Nas boas livrarias desde o ano passado. O Essencial da Década de 90 deverá sair a qualquer momento, trazendo Morangos Mofados, o maior sucesso do escritor, é ancorado no vazio despertado pelo fim do movimento hippie e começo de uma nova década, os anos 80, espécie de entressafra ideológica.
8. O Declínio do Império Americano e As Invasões Bárbaras, do diretor canadense Deny Arcand são dois filmes impagáveis, delicadamente políticos e poéticos, uma crítica bem-feita aos relacionamentos e valores contemporâneos, agora em DVD. Assisti-los, em seqüência ou não. De preferência, na companhia de bons e velhos amigos. Incremente: ao invés de pipocas, tábuas de queijo & vinhos. Para se descobrir que ainda há tempo...
9. Padres da província francófona canadense de Québec criticam a Igreja Católica por sua oposição às uniões homossexuais e à ordenação de sacerdotes homossexuais praticantes. Os padres se opõem a uma regra baixada em novembro pelo Vaticano, segundo a qual homossexuais praticantes (santa hipocrisia!), os que tenham “tendências arraigadas” (ferramentas e não paramentos?”) e os simpatizantes da cultura gay (?) devem ser impedidos de chegar ao clero.

10. Pois diga, bichinho! E a próstata?

domingo, 15 de abril de 2007

Ave, Rosa

1. Cinqüentenário. Lançado em maio de 1956, pela editora José Olympio, do Rio de Janeiro, Grande Sertão: Veredas está completando 50 anos. Este livro foi baseado numa viagem que o escritor Guimarães Rosa fez, acompanhando uma boiada, tocando cerca de 600 cabeças de gado. Guimarães, juntamente com oito vaqueiros, percorreu cerca de 40 léguas - 240 km - durante 10 dias, indo da Fazenda Sirga, em Três Marias, à fazenda São Francisco, sediada no município de Araçaí-MG.
2. Grande Sertão: Veredas é considerado o principal romance brasileiro do séc. XX, mas ainda é praticamente desconhecido dos leitores brasileiros. Críticos consideram Guimarães Rosa e Clarice Lispector como os nossos maiores romancistas desde Machado de Assis.
3. Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. É assim que inicia o romance. São 571 páginas (a minha edição é a 3ª, de 1963). Durante três dias e três noites, um interlocutor letrado, silencioso, com o olhar e meneios de cabeça, vai deixando Riobaldo desfiar todo o rosário de sua vida. Monólogo interior. Narrativa irregular, de enredo não-linear, várias estórias vão surgindo. O olhar de Riobaldo no olhar do doutor. Uma estória dentro de outra estória. Mise-en-abîme.
4. Nhorinhá, Otacília e Diadorim: os três amores: um físico, outro verdadeiro e o último impossível. Diadorim é o grande conflito de Riobaldo: paixão e repulsa, pois está o tempo inteiro travestido de jagunço – Reinaldo. ...quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.
5. Nhennhennhém... Heeé!... A gente morre é para provar que viveu. Hum? Eh-eh... É. Nhor sim. A gente sabe mais de um homem é o que ele esconde. Ã-hã. A gente só sabe bem aquilo que não entende. Hã-hã. O tempo é que é a matéria do entendimento. Hum, não adiante mais percurar... Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo. Vingar, digo ao senhor : é lamber, frio, o que o outro cozinhou quente demais. Hui! Atiê! Atimbora!
6. João Guimarães Rosa (1908-1967) nasceu em Cordisburgo, centro-norte de Minas. Fez o curso secundário em Belo Horizonte. Formou-se em medicina e clinicou pelo interior de seu estado, recolhendo matérias para suas obras. Por essa época, foi autodidata em alemão e russo. Falava o francês, inglês, italiano, alemão; além de alguns conhecimentos em húngaro, russo, persa, hindu, árabe, servo-croata, malaio, sueco, dinamarquês, latim e grego (clássico e moderno).
7. Em 1956, além de Sagarana, em quarta edição, Guimarães Rosa vai lançar também Corpo de Baile (novelas), que depois vai ser desdobrado em três volumes: Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, no Pinhém; e Noites do Sertão.
8. Riobaldo. Guimarães Rosa faleceu aos 59 anos. Três dias antes da morte ele decidiu, depois de quatro anos de adiamentos, tomar posse na Academia Brasileira de Letras. Os quatro anos de adiamento eram reflexos do medo que sentia da emoção que o momento lhe causaria. Ainda que risse do pressentimento, afirmou no discurso de posse: "... a gente morre é para provar que viveu.”
9. Ai, Diadorim. Viver é muito perigoso.

quarta-feira, 4 de abril de 2007


1. Tu, onça tu. O cheiro de alfazema vai tomando conta de toda a casa. Não há mais descanso: Caê, pariu! Gravado com três jovens músicos, Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado, é um álbum de pop-rock, mas não é só isso: tem também um quê, um não sei lá, sei como (a veia que cria, o verbo que se faz, cornucópia, mucosas) que é puro Caetano! Entendeu? Nem é preciso, meu bem. Ponha a brasa pra rodar! Na quinta avenida, digo audição, os seus ouvidos acostumar-se-ão com o som do novo disco de Caetano. E você vai amá-lo como das outras vezes. E é capaz de se perguntar por que não aconteceu antes desta noite que não se mostra.
2. Eu, jacaré eu. Caetano demonstra o fôlego dos garotos: são 12 músicas novas. A direção é de Pedro Sá e Moreno Veloso (este é filho biológico, o outro é “filho” na acepção familiar, alguém que está muito – muito! – perto). Pedro (guitarra), Ricardo (baixo e piano rhodes) e Marcelo (bateria), além de Caetano no violão, tocam todas as músicas do disco. Caetano pensa em levar esta mesma formação para o palco. O som é ótimo e Caetano continua exercitando a sua capacidade de nos hipnotizar com o seu canto poético-sexual-intimista-psicodélico. E de festa! No sentido de não ser algo triste, melancólico.
3. Ai de ti. Caetano ensina: “Não se trata, porém, de um disco de rock como os que ouço e me interessam: as músicas são minhas, minha voz continua a mesma, meus cabelos estão mais brancos do que pretos, menos cacheados e sempre mais curtos do que quando os tinha longuíssimos - ou mais longos do que quando decidi usá-los curtos”. Você entende! Curta O Herói. É Caetano repetindo velhas perfeitas performances. Crash.
4. Essa é pra tocar no rádio. “Todo o mundo gosta de fazer sucesso. E a mim me traz felicidade poder fazer o que agrada a muita gente, ver que muitas pessoas me ficam gratas e gostando de mim”, alerta Caetano.
5. Você. Nós Dois. “Não me arrependo” é canção para se gostar logo de início. Vai estar na sua, na minha, na nossa rádio. Uma ode a Paulinha Lavigne? Pois, pois, meu bem! O eu-lírico é livre e finge tanto quanto é possível... até esquecer que finge. E vive. Por acaso, é autobiográfica, sim! Mas de qual passado?

6. Lindo mais do que eu.não, nada irá nesse mundo/ apagar o desenho que temos aqui/ nem o maior dos seus erros/ meus erros, remorsos, o farão sumir”.
7. Roça, Camões, roça! Três versos: “Estou-me a vir/ e tu como é que te tens por dentro?/ por que não te vens também?”. Na tua ou na minha?
8. Caetano & Chico. Caetano não estará sozinho: Chico Buarque também está a acontecer com o seu disco Carioca, lançado desde maio, após um tempo de oito anos, período em que se dedicou à carreira literária. A propósito: desde 1993, quando Caetano lançou Tropicália 2, ao lado de Gilberto Gil, e Chico Buarque Paratodos, que não se via os dois, lado a lado nas prateleiras, com discos recheados de canções inéditas.

9. Qual Caetano? Nos anos 70, a chegada do “disco do Chico” e do “disco do Caetano” provocava frenesi entre os fãs. Eles representavam as principais vertentes da Música Popular Brasileira. Eu só sinto inveja dos orgasmos múltiplos.

10. Uroboro.Eu sigo aqui e sempre em frente, deixando minha errática marca de serpente”. Vai encarar? “Meu coração não se cansa de ter esperança/ de um dia ser tudo que quer”.