domingo, 3 de agosto de 2008

CLANDESTINO
JORNAL CULTURAL MENSAL

ENTREVISTA COM ALUÍSIO BARROS – EDIÇÃO: MARÇO DE 2004.

Entrevistadores: Mário Gerson, Clauder Arcanjo, João Maria e Symara Tâmara.
Local: Mossoró – RN Data: 12 de março de 2004
Conselho Editorial: Mário Gerson, Dorian Jorge Freire, Symara Tâmara, Clauder Arcanjo, Fernando Dinoá e João Maria.

1 - Clandestino: A que se deve a sua relação com a literatura?
Uma infância rural: debulha de milho e feijão. Um lençol alto de não se avistar o irmão do outro lado. A lamparina descendo, conforme os grãos debulhados e eu, menino de calças curtas, “cantando” cordel. A leitura era mais prazerosa do que os dedos sofrendo na debulha da espiga. E minha mãe também desfiava estórias sem fim, enquanto o sono não chegava. Aquelas estórias que começavam com “era uma vez...” e terminavam sempre assim “entrou pela perna do pinto, saiu pela perna do pato, senhor Rei mandou dizer que você contasse quatro”. Acredito que foi esse tipo de vivência que me conduziu aos livros, que encontrava aos montes na Biblioteca “Machado de Assis”, cria de Pe. Pedro Neefs, um holandês que fundou uma ONG chamada FUNDEVAP – Fundação para o Desenvolvimento do Vale do Apodi. Lá na Biblioteca, eu e meus amigos, líamos muito. Havia muita disputa. Cada um desejava ler mais do que o outro. Líamos Monteiro Lobato, José de Alencar, Machado de Assis, Olavo Bilac, Bernardo Guimarães... tudo. Cada um desejava ler mais do que o outro. Lembro especialmente de Domingos Sávio, filho de Leonildes Marcolino e dona Moça ou sobrinho de Dom José Freire, pois era desse modo que a gente adquiria identidade naquela Apodi que desapareceu para minha infância no dia em que meu avô deixou de acender as luzes da cidade e precisei sair para o mundo em busca do conhecimento, que lá se esgotava na 4a. série ginasial. Hoje, quando me dirijo para o trabalho no Núcleo Avançado de Educação Superior de Apodi, fico matutando, desejando saber das coisas que deixei de aprender desde que me tornei figurinha difícil nas calçadas que formam “o quadro da rua”.

2 - Clandestino: Quando começou a ler? Como se deu? E quando se deu a descoberta do escritor e poeta Aluísio Barros?
Uma vez desasnado pelas Toinhas do Campo, dona Mundá e dona Lindaura, pois era assim que acontecia na minha cidade, o encanto pelos livros foi uma coisa natural. Não sei precisar o instante em que me senti poeta. Jundiaí é o meu divisor de águas (O Colégio Agrícola de Jundiaí, em Macaíba, que é a terra de Auta de Souza). Lá, convivi com pessoas maravilhosas: Regina, Raimundo Nonato, Gurgel, Elielba, Luciano, Jorge... uma confrariazinha. Palmeira! Raimundo Nonato é um estudioso da poesia de Ana Cristina César. Deve estar doutorando-se lá pras bandas do Rio de Janeiro. Um poeta finíssimo. Gurgel e Luciano trabalham na Petrobrás. Regina, ave Maria!, era a nossa musa. Ir à casa do professor Waldson Pinheiro, pai de Regina, era mais do que um programa. Era o máximo! Bebinha deve estar pras bandas do seridó. Jorge andou pelo Grupo de Chorinho da UERN. Cursou Educação Física. Adriano de Sousa foi meu contemporâneo, mas não lembro de nada que o apontasse poeta. Hoje é aclamado nas melhores rodas de Natal. Na realidade, o que gostaríamos mesmo de seguir, para desespero dos professores que nos sonhavam engenheiros agrônomos e veterinários, era o jornalismo, pois éramos entrosadíssimos com o pessoal que fazia jornalismo na UFRN. Adriano é jornalista. E antes de nós, havia o rastro visível da passagem de Crispiniano Neto e Aécio Cândido pelo colégio. Quando desagüei em Mossoró, vindo dos lados da Bahia, em 79, acabei na redação de O Mossoroense sob a direção de Dorian Jorge Freire. Na Souza Machado. Sou do tempo em que as matérias eram compostas na linotipo e coladas com cola de sapateiro. Escrevia uma coluna chamada “Geraes”. Assim mesmo. De variedades. Sabe quem trabalhava lá? Jaime Hipólito Dantas. Ele e Dorian representavam o máximo para os que desejavam ser escritor. Jaime e Dorian eram para ter bustos em uma dessas praças bonitas que Mossoró ostenta para os olhos distantes do mundo. É uma mesquinharia não trocarem o nome da rua onde Jaime Hipólito e familiares viveram muito tempo. Um decretozinho besta. De nada.

3 - Clandestino: E quem é o poeta Aluísio Barros?
Sei lá! Aluísio Barros, o poeta, é um ser que ainda estou tentando descobrir. Ele é escorregadio, quando penso que o apanhei, ele some. Deixa-me meses sozinho, até que de repente me invade a alma. E me faz falar sobre pessoas, coisas, lugares, sentimentos... e some outra vez, deixando-me repleto de silêncios.

4 - Clandestino: Você foi premiado num concurso entre Brasil e Portugal. Um concurso de literatura. Fale sobre esta premiação...
Em 92, fazia um curso na PUC-Mg, quando me inscrevi no Concurso Brasil - Portugal. Foram 1.009 poemas inscritos. Universitários de todos os países de língua portuguesa. Acabei entre os 30. A comissão julgadora era coordenada por Haroldo de Campos. Quando um amigo ligou de São Paulo perguntando se havia participado do concurso, pois ouvira meu nome ser anunciado por Haroldo de Campos, fiquei deveras emocionado. O resultado do concurso rendeu uma antologia chamada “Páginas Avulsa”, publicada pela Editora da USP. Estava preparando o “Anjo Torto” e o poema selecionado é ‘Vigília’, que também inclui em “Não toque, Alice”.

5 - Clandestino: Na sua opinião, qual a análise que você faria da atual literatura brasileira? E norte-rio-grandense?
É necessário um certo distanciamento, espaço-temporal, para se compreender a literatura contemporânea. A perda de poetas como Carlos Drummond, em 1987, e João Cabral de Melo Neto, em 1999, abriu um vazio na literatura do país. Notadamente, na poesia. Mas temos o Manoel de Barros, Adélia Prado, Lya Luft, Nélida Piñon, Rubem Fonseca, João Ubaldo Ribeiro... embora quem faça sucesso mesmo seja o ocupante da cadeira de no. 21, da Academia Brasileira de Letras. A nossa literatura vive de altos e baixos. São pouquíssimos os autores brasileiros com penetração no mercado europeu. Lá fora, Machado de Assis e Guimarães Rosa gozam de muito prestígio, principalmente no mundo acadêmico. E o mundo acadêmico é muito diferente do mercado livresco. Sobre a literatura norte-rio-grandense, é bom ler Tarcísio Gurgel em seu (In)formação da literatura potiguar.

6 - Clandestino: E com respeito à literatura produzida na cidade? Que poetas e escritores chamam sua atenção, despontando como futuros talentos?
Mossoró é uma cidade profícua de escritores. Temos aos montes. Citá-los é correr riscos. Deixarei que o tempo faça a seleção. Mas adianto que para escrever é necessário o contato com outras escrituras de maior consistência. E resistir às lambidas da vaidade. Os bons ficarão, os medíocres, passarinhos.

7 - Clandestino: Você participou de algum movimento literário em Mossoró? Que tipo de movimento cultural está faltando em nossa cidade?
Participei de tudo que aconteceu em Mossoró na década de 80. Durante todo o meu percurso pelas redações de O Mossoroense, Gazeta do Oeste e da Rádio Rural, sempre fiz um trabalho ligado às artes. Realizei um trabalho chamado Expoarte, ou Arte no Beco, na Travessa Jornalista Martins de Vasconcelos, onde reuni todos os que produziam arte na cidade no início dos anos 80: poetas, pintores, artesãos, artistas plásticos... Todos. Fazíamos recitais e show musicais no Auditório Prof. Vingt-Un Rosado, no Clube ACEU, no Caiçara. Participei da realização de quase todos os shows comemorativos ao dia 1o. de Maio: Aécio Cândido e o pessoal do Grupo Terra, Ricardo Rogério, João Liberalino e o pessoal da ESAM, Lima Neto, Betinha, Herbert Mota, Valdir, Gilberto Lóia, Flávio Robson... uma porção de gente boa. Dirigi o Centro Cultural da UERN e, com uma equipe diminuta, oferecíamos espetáculos semanais de teatro, cinema e música. Coloquei meu tijolinho. Fui editor do Caderno 2, do jornal Gazeta do Oeste. Participei de vários projetos de criação de revistas e jornais. Depois, as aulas no Dom Bosco, Colégio Estadual, Lavoisier Maia, Abel Coelho... Cheguei a contabilizar 600 alunos por ano. Somente no Colégio Estadual, ministrava aulas em 18 turmas. Vôte! Havia tempo para mais nada, não. Hoje? Mossoró é, na versão da mídia oficial, uma das maiores cidades culturais do país. Da janela, eu vejo...

8 - Clandestino: “Anjo Torto” é considerado um dos seus melhores livros de poemas. Ele reúne poemas de outros livros. Quando lhe veio a idéia de fazer uma mini-antologia de seus versos?
Gosto muito de Não toque, Alice. Acredito-me mais amadurecido no trato com a palavra do que em Anjo Torto. Acontece que Alice ainda não foi lido. Os livros voltaram quase todos do Café Bagdá. Na Potylivros, da UERN, contabilizei dois leitores. Na Livraria Independência, mesmo tendo sido adotado como leitura obrigatória para o vestibular de uma universidade local, permanecem todos os exemplares que por lá deixei. Ainda bem que a edição foi por mim financiada. E, diga-se de passagem, exemplares foram comprados pela secretaria de educação do município e pela UERN, por que senão... Por que não lanço? Gosto não. Você convida um bocado de gente, serve a bebida e os canapés para no final contabilizar 6 exemplares vendidos?! Quem lançou livros por aqui, sabe que não estou mentindo. Sobre Alice, tenho recebido notícias ótimas dos professores que trabalham os meus poemas em suas salas de aula.

9 - Clandestino: Você é professor da Universidade do Estado do Rio Grande e do Departamento de Letras e Artes – FALA. A Universidade possui algum projeto que torne possível o contato dos alunos de letras e demais áreas com os escritores da cidade?
Estou diretor da Faculdade de Letras e Artes, desde julho. Na Semana Universitária, trouxemos o Prof. Bartolomeu Bueno, da UFPb, para ministrar uma oficina de criação poética. Para que ninguém reclamasse, abrimos turma no matutino e no noturno. Houve divulgação, mas o número de participantes foi muito pequeno. O artista plástico Careca e a atriz Tony Silva ministraram oficinas de pintura e teatro. Por duas vezes, já. Trouxemos o professor Marcos Falleiros, do mestrado da UFRN, para palestra sobre a literatura brasileira contemporânea. Promovemos uma aula inaugural com o professor e poeta Aécio Cândido, realizamos o concurso literário “Jaime Hipólito Dantas” – Categoria Poesia – para alunos dos cursos de graduação da UERN e tivemos menos de 10 participantes, o que não tira o brilho da belíssima poesia feita pela Goreti Serra, vencedora do concurso. No próximo semestre vamos receber os primeiros alunos para a graduação em música. Quando resolver a questão de espaço físico, vamos propor a criação de um curso de educação artística, afinal, a FALA também deseja ser uma escola de artes. Entretanto, necessário se faz que as pessoas cobradoras de ação, apareçam, pois se não ficará difícil, pois a reclamação existe, mas o interesse em participar morre quando a ação é penosamente realizada.

10 - Clandestino: Que possibilidades podem ser abertas, pela Universidade, para essa interação?
Fale sobre o concurso literário e a oficina e a ausência de gente interessada
É necessário, e vou continuar tentando fazer isso, formar platéia para eventos literários. Durante um certo tempo, coordenei um projeto chamado “Encontro Marcado”, que era uma tentativa de formar platéia para eventos. Pelo menos uma vez ao mês, os produtores de arte e cultura aportavam na FALA. Mas aí, transformava o carro lá de casa numa espécie de alternativo: ia buscar e deixar o pessoal, transportava equipamentos, arrumava a mesa, as carteiras, a iluminação, etc. etc. Na grade curricular do curso de Letras, mantemos uma disciplina chamada literatura potiguar, que foi criada por Dorian Jorge Freire quando diretor do curso. Semestralmente ela é ofertada. Acredito que não existe canal melhor do que este. Vamos continuar com o concurso “Jaime Hipólito Dantas”, ampliando para a categoria conto. Considero correto que, inicialmente, tentemos despertar e descobrir talentos entre os nossos universitários. O município através da fundação de cultura já realiza os seus concursos. Já o contato com os escritores da cidade, isso tem acontecido sempre. Várias disciplinas do novo Projeto Político-pedagógico do curso de Graduação em Letras que, diga-se de passagem, é um curso de formação de professores e não de bacharéis, abrem esta possibilidade de diálogo. Estamos aguardando a resposta de um poeta da cidade, para que ele profira a aula inaugural do curso neste semestre. Estamos abertos a novas propostas.

11 - Clandestino: “Não toque, Alice” é um livro confessional?
Lírico-amoroso. Confessional até onde se pode imaginar uma criatura que cria criaturas para viver sentimentos que não teve chance de viver. Segue a linha do “poeta é um fingidor...”

12 - Clandestino: Para você, qual a importância do ato de ler?
Os néscios não lêem. Ou fingem que estão lendo. Mas não conseguem enganar ao ouvinte mais atento. A leitura é alimento imprescindível para a alma.

13 - Clandestino: E de escrever? Como ele se dá? Tem algum método, local ou horário preferidos? Para que público sua escrita se destina?
Não sigo método algum. Escrevo quando sinto vontade. E mostro – se é que mostro – quando sinto que o poema esteja pronto para ser mostrado. Na realidade, primeiro vem à idéia... depois, o trabalho com a palavra. Alguns poemas chegam prontos. Outros, não se completam jamais. Gosto mais de escrever quando estou sozinho. A esperança de todo escritor é que a sua mensagem seja compreendida. Escrevi Alice pensando nos jovens. Aqui e ali encontro algum menino ou menina que teve acesso ao livro na biblioteca de sua escola. E, por incrível que possa parecer, todos querem saber “quem é Alice?”. São tantas, respondo. E isto é uma verdade poética.

14 - Clandestino: Quais os escritores que mais lhe influenciaram? Quais os prediletos no Brasil? E os estrangeiros? Alguns deles são livros de cabeceira?
Leio muito. Acredito que nas minhas poesias há respingos de Bandeira, Cecília Meireles, Drummond, João Cabral, Gullar. Gosto também de Machado, Graciliano, Guimarães, Clarice Lispector, Shakespeare, Woolf, Garcia Márquez, Luís Fernando Veríssimo. Um escritor puxa outros. É igualzinho ao modo como se monta uma biblioteca. Agora, estou lendo Chico Buarque e Gabriel Garcia Márquez. E gostando muito de Budapeste e Viver para contar. Chico tem se revelado ótimo escritor. E o livro de Gabriel serve para esclarecer o modo como nascem as suas histórias. Leio mais ensaios do que ficção e poesia. Relaxo em períodos de férias, mas o dia-a-dia da faculdade não me deixa folga para os romances. Entre os críticos, gosto de Silviano Santiago, de Antônio Cândido...

15 - Clandestino: O que diferencia um bom poeta? O que lhe toca?
Um escritor, quer seja da prosa ou da poesia, necessita estar em sintonia com o seu tempo, com o seu povo. Antena do mundo, na visão de Drummond, ele antecipa e filtra os acontecimentos. É este compromisso com o tempo que me atrai. Sou moderno. Sigo o ritmo do meu tempo. E busco, com as palavras, construir imagens que o traduza. Poesia metrificada, rimada? Tudo bem. João Cabral de Melo Neto compunha poemas belíssimos, mas todos sintonizados com as questões do seu tempo. É perda de tempo compor sonetos à moda dos parnasianos. Refiro-me ao derramamento exageradamente romântico, piegas, patriótico demais, recheado de imagens greco-romanas, falsa erudição. Sou sapo cururu, nunca tanoeiro.

16 - Clandestino: Como você vê o momento atual da juventude? Preocupa-lhe o distanciamento dos livros? O que podemos fazer? Como você avalia o espaço propiciado pela mídia para os escritores?
Os meninos e meninas estão dispersos. Confusos. Mas são bons meninos e meninas. Tentemos alcançá-los, pois são leitores em busca de autores. Cada vez que sai a lista dos livros obrigatórios para os vestibulares, fico matutando quantos leitores estão sendo mortos. Vamos indicar para estes meninos e meninas autores mais próximos do universo deles. E depois, nada de recomendações do tipo “leiam isso” e “não leiam aquilo”. Leiam tudo: HQs, jornais, revistas de fofocas, romances água-com-açúcar. Vamos deixar os meninos e meninas pegarem gosto pela leitura. É daí que nascerá o leitor dos bons autores. Agora, fica difícil para os bichinhos a indiferença de seus pais por qualquer tipo de leitura. No lar em que os pais praticam costumeiramente a leitura – nem que seja do jornal dominical – é mais fácil o surgimento de um futuro leitor. E professor, hein? Rapaz, existe professor que não ler um livro nem para entrar no céu. Considero o Luís Fernando Veríssimo e o Rubem Fonseca autores capazes de atender às expectativas dos meninos e meninas iniciantes. No tocante à mídia impressa, considero o espaço razoável, pois o público leitor ainda é muito reduzido para o tamanho e população do Brasil. Já na internete, são inúmeras as revistas eletrônicas. Participo de “Proa da Palavra”, no portal Terra.

17 - Clandestino: E a relação do escritor Aluisio Barros com seus alunos do curso de Letras? Quais desafios enfrenta o professor de literatura nos dias atuais?
O nosso trabalho, na faculdade, é segmentado. As cadeiras de literatura brasileira e de portuguesa são divididas em I, II, III e IV. Por século. Trabalhei todas elas ao mesmo tempo. Agora, com a chegada de José Luiz e Isabel, fico com o período de formação da literatura brasileira. Chego até o séc. XIX. Acredito que existe um entrosamento entre mim e os estudantes. Gostaria de mais tempo para ouvi-los. Gostaria de contar com turmas mais homogêneas. Vezes, recebo um aluno espetacular, mas que acaba sendo prejudicado pelo desnível da turma. No curso de Letras, trabalho mais nos períodos finais, a receptividade à leitura é boa, embora eles reclamem muito do excesso de textos.

18 - Clandestino: Você está com alguma produção literária inédita?
Gostaria de tempo para escrever. Quando ia a praia nos finais de semana, acabava encontrando espaço para produzir. O silêncio é tudo, tanto para a leitura quanto para a produção. Tibau, nos períodos de não-veraneio, é local aprazível para a produção literária. Tenho umas coisinhas escritas no meu blog: http://alu_oliveira.blog.uol.com.br. E outras perdidas no ciberespaço. Vou continuar tentando descobrir uma linguagem que me aproxime dos jovens.

19 - Clandestino: Como você vê o papel da literatura no mundo? Revolução ou diversão?
Tudo depende também da natureza do poeta e do cenário político do país onde se vive. A função da literatura é, em primeiro lugar, proporcionar prazer ao leitor. A revolução virá desse encantamento.

20 - Clandestino: Como você vê e qual a sua proximidade com a cultura popular?
Outro dia, fui ao Circo de Fuxiquinho. Vez por outra, vou a uma cantoria. Vezes, paro na rua e assisto apresentações teatrais. Ficava encantado com a dupla Concriz e João Preá, antigamente, com suas emboladas na Praça da Catedral. Sou assíduo freqüentador dos festejos populares que acontecem na Estação das Artes “Elizeu Ventania”. A arte é popular. Aquilo que é considerado erudito, a raiz é popular. Sempre foi assim. Essa divisão é classista. Vi professores universitários do sul e do sudeste, diga-se de passagem, escandalizados com a adoção da poesia de Patativa do Assaré, entre os autores de leitura obrigatória para o Provão. Já ouvi também pessoas bem postadas nas rodas intelectuais anunciarem o seu desprezo pela dupla Chitãozinho e Chororó, Zezé de Camargo e Luciano e outros cantores e compositores da chamada música sertaneja. Posso até não ser um consumidor dessas duplas e de outros cantores/compositores. Mas daí, sair dizendo que eles não sabem cantar... Pelo amor de Deus! O povo assiste um concerto da orquestra sinfônica e sai maravilhado. O que vale é este tipo de encantamento – ou catarse, como diriam os gregos – que a arte é capaz de proporcionar. Mas não curto nada por obrigação. Se estiver com vontade, vou a um show de Bartô Galeno. Mas se estiver assim assim de lua, Caetano Veloso – e olha que sou louco por Caetano – desce na Praça da Catedral e eu não desço o Alto de São Manoel de jeito algum. O desejo de todo artista é ser popular. Mirem-se no exemplo de Vinícius de Moraes que escolheu a música para popularizar sua poesia.

21 - Clandestino: O que você recomendaria aos escritores que estão se iniciando nas letras?
Gostaria de lembrar uma lição transmitida por Carlos Drummond, através do poema “Procura da Poesia”, in A Rosa do Povo, de 1945, que é livro marcado pelos acontecimentos da época (a guerra, a luta pela liberdade). Ele aconselha: “Não faças versos sobre acontecimentos”. Isso quer dizer que o que constitui a poesia não é a referência ao real, como também não é a referência aos sentimentos e aos sonhos, não é imagem refletida do mundo ou a tentativa de capturar o passado fugidio, embora tudo isso possa estar presente no poema; O QUE CONSTITUI A POESIA É O TRABALHO PROFUNDO COM A LINGUAGEM. Ainda segundo Carlos, os temas passam, mas a poesia não se dissipa, pois sem o seu trabalho as palavras apagam-se na noite e na indiferença. A idéia que parece exprimir-se aqui é que o trabalho poético carrega a linguagem de música e sentido, desde que ele - autor/leitor - possua “a chave” para a decifração da mensagem.

22 - Clandestino: Considerações finais
Agradeço o convite e desejo vida longa para o Clandestino e sua primorosa equipe. Sei o quanto é difícil manter um jornal de cultura, longe das verbas oficiais.

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