domingo, 15 de abril de 2007

Ave, Rosa

1. Cinqüentenário. Lançado em maio de 1956, pela editora José Olympio, do Rio de Janeiro, Grande Sertão: Veredas está completando 50 anos. Este livro foi baseado numa viagem que o escritor Guimarães Rosa fez, acompanhando uma boiada, tocando cerca de 600 cabeças de gado. Guimarães, juntamente com oito vaqueiros, percorreu cerca de 40 léguas - 240 km - durante 10 dias, indo da Fazenda Sirga, em Três Marias, à fazenda São Francisco, sediada no município de Araçaí-MG.
2. Grande Sertão: Veredas é considerado o principal romance brasileiro do séc. XX, mas ainda é praticamente desconhecido dos leitores brasileiros. Críticos consideram Guimarães Rosa e Clarice Lispector como os nossos maiores romancistas desde Machado de Assis.
3. Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. É assim que inicia o romance. São 571 páginas (a minha edição é a 3ª, de 1963). Durante três dias e três noites, um interlocutor letrado, silencioso, com o olhar e meneios de cabeça, vai deixando Riobaldo desfiar todo o rosário de sua vida. Monólogo interior. Narrativa irregular, de enredo não-linear, várias estórias vão surgindo. O olhar de Riobaldo no olhar do doutor. Uma estória dentro de outra estória. Mise-en-abîme.
4. Nhorinhá, Otacília e Diadorim: os três amores: um físico, outro verdadeiro e o último impossível. Diadorim é o grande conflito de Riobaldo: paixão e repulsa, pois está o tempo inteiro travestido de jagunço – Reinaldo. ...quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.
5. Nhennhennhém... Heeé!... A gente morre é para provar que viveu. Hum? Eh-eh... É. Nhor sim. A gente sabe mais de um homem é o que ele esconde. Ã-hã. A gente só sabe bem aquilo que não entende. Hã-hã. O tempo é que é a matéria do entendimento. Hum, não adiante mais percurar... Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo. Vingar, digo ao senhor : é lamber, frio, o que o outro cozinhou quente demais. Hui! Atiê! Atimbora!
6. João Guimarães Rosa (1908-1967) nasceu em Cordisburgo, centro-norte de Minas. Fez o curso secundário em Belo Horizonte. Formou-se em medicina e clinicou pelo interior de seu estado, recolhendo matérias para suas obras. Por essa época, foi autodidata em alemão e russo. Falava o francês, inglês, italiano, alemão; além de alguns conhecimentos em húngaro, russo, persa, hindu, árabe, servo-croata, malaio, sueco, dinamarquês, latim e grego (clássico e moderno).
7. Em 1956, além de Sagarana, em quarta edição, Guimarães Rosa vai lançar também Corpo de Baile (novelas), que depois vai ser desdobrado em três volumes: Manuelzão e Miguilim; No Urubuquaquá, no Pinhém; e Noites do Sertão.
8. Riobaldo. Guimarães Rosa faleceu aos 59 anos. Três dias antes da morte ele decidiu, depois de quatro anos de adiamentos, tomar posse na Academia Brasileira de Letras. Os quatro anos de adiamento eram reflexos do medo que sentia da emoção que o momento lhe causaria. Ainda que risse do pressentimento, afirmou no discurso de posse: "... a gente morre é para provar que viveu.”
9. Ai, Diadorim. Viver é muito perigoso.

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